Pesquisadora de área de cultura e relações de poder na sociedade, a doutoranda e Mestre Vanessa Vilas Bôas Gatti participou de uma conversa com os alunos da disciplina eletiva “Sobrevivendo no Inferno” na sexta-feira passada, 24/05. Com base no seu artigo previamente lido pelos alunos “Manos e playboys: uma análise da construção da imagem-nós nas músicas de Racionais MC´s”, foi possível aprofundar um pouco as questões levantadas pelo grupo de rap e pelo próprio estudo sociológico da cientista.
Aos alunos ficou o importante aprendizado não só com o conteúdo das músicas que se tornaram leitura/audição obrigatória da Unicamp trabalhadas ao longo do curso da eletiva, como também o contato com pesquisa científica por meio da leitura do artigo e pela conversa com a pesquisadora. Professora Vanessa apresentou uma série de conceitos sociológicos enriquecedores atrelados a outras músicas da trajetória dos Racionais, que não integram o álbum “Sobrevivendo no inferno”.
Ficou evidente de que forma tornou-se verdade a síntese de uma das principais vozes do grupo Racionais MC’s, Mano Brown, “Há trinta anos nós não éramos considerados música, agora nós somos cultura”. Entender essa lógica está diretamente ligado a como as relações de poder são construídas dentro da nossa sociedade e de que maneira isso pode afetar a própria cultura e manifestações artísticas, políticas públicas e as divisões sociais dentro da nossa sociedade, explicou a pesquisadora.
Impressão da aluna
“A distância existente entre mim, uma menina de classe média, estudante de uma escola particular e cercada de tantos outros privilégios, e outra menina de classe baixa, estudante de escola pública e privada dos “privilégios” que deveriam ser seus direitos é gritante.
A consciência desse desequilíbrio estrutural concretizou-se com a conversa que tivemos com Vanessa, doutoranda em sociologia pela USP, a qual fez sua pesquisa sobre Racionais Mc’s, nos mostrando o trabalho do grupo e do rap como um todo. Os Racionais proporcionaram uma representatividade, que antes era quase inexistente para a periferia, dando cor, forma e atitude para seus ouvintes, oferecendo uma linguagem acessível e que de fato representava as comunidades. O surgimento do rap quebrou barreiras que antes eram estruturadas pela MPB e, principalmente, pelo samba, por exemplo, que passava a ideia de um Brasil unificado e plural. Os Racionais quebram esses conceitos, nos trazendo a visão do “outro lado do muro”, como eles falam em suas composições, mostrando o cotidiano singular dessas pessoas.
Com a conversa e o artigo que lemos sobre o grupo, desconstruí as ideias de realidades que antes eram restritas e elitizadas, tendo como conclusão que sou cercada de privilégios que me asseguram da falta de acessibilidade que eles vivem de forma cotidiana.” – Tatiana dos Santos Fritsch, 2ª série A
Professor Paulo Roberto Laubé