Comemoração Cívica

Ao refletir sobre o 07 de setembro, data celebrada oficialmente como a independência política do Brasil, é inevitável não pensarmos sobre a presente situação do país. Para muitos analistas, o Brasil atravessa atualmente uma grave crise, que se desdobra em crise econômica, crise política e crise ética.

Vamos aprofundar essa questão, a da ética, e, já que estamos às vésperas da comemoração da nossa independência, fazer uma relação entre ética e liberdade.

A mais simples e completa definição de ética li recentemente no livro Educação, convivência e ética, do professor Mario Sergio Cortella, quando faz referência ao filósofo francês Paul Ricoeur, que afirma: “Ética é vida boa, para todas e todos, em instituições justas.”

Vida boa não é uma referência ao esbanjamento ou ostentação. Vida boa é a vida em abundância, na qual haja trabalho para todos, moradia digna, acesso à educação e cultura de qualidade, enfim, é a negação da ausência, da carência.

Para todas e todos. Num mundo em que todas as nossas relações são tecidas historicamente e no coletivo, se alguém estiver fora do que se entende como vida digna, não haverá dignidade de fato. Qualidade social passa por quantidade total, porque se apenas alguns possuem qualidade de vida, isso não é qualidade, é privilégio.

O mesmo é válido para o conceito de liberdade. Houve um tempo, mais precisamente século XVIII, época dos iluministas, em que liberdade era entendida como: “A minha liberdade termina quando começa a do outro.” Na vida coletiva, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se ainda um entre nós, não estiver livre da pobreza, da ignorância, de qualquer tipo de escassez e privação, nenhum de nós estará realmente livre.

Enquanto não estivermos “livres de”, não estaremos “livres para”. Coletivamente, socialmente, enquanto não estivermos livres DE nossas carências concretas e emocionais, não estaremos livres PARA usufruirmos de uma vida plenamente feliz, ou seja, enquanto não estivermos livres do mundo das necessidades, não estaremos livres para construirmos o mundo da real liberdade.

Maria Rita Ams Fernandes Veira, professora de História