Arte e Crítica Social – 7º ano

 As disciplinas de História e Arte uniram-se para realizar uma atividade com os alunos do 7º ano, que visou explorar o resgate da memória dos 70 anos das bombas de Hiroshima e Nagasaki, sensibilizar os alunos e provocar a reflexão acerca dos horrores gerados por uma guerra.

Com a leitura e a contextualização da obra Guernica (Pablo Picasso) foi proposta uma discussão, na qual os alunos identificaram na expressão artística a potencialidade de crítica social por meio da obra de arte.

Como ponto de partida, em Arte, os alunos utilizaram recortes de jornais para criarem composições monocromáticas nas quais o esquema de cores é limitado ao preto, branco e cinza. Durante a atividade refletiram sobre temáticas sociais, tais como: fome, racismo e violência urbana. Recortaram em jornais frases relativas às temáticas debatidas e criaram composições nas quais perceberam a arte como forma de denúncia. Mais do que isso, reconheceram que por meio de uma imagem podem-se expressar diferentes conceitos, situações e emoções e que depois de pronta, a obra pode despertar várias interpretações e um mosaico de sentimentos.

Nas aulas de História trabalhamos a contextualização da obra Guernica – período entre guerras, Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) e Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Mais do que uma aula expositiva sobre os fatos, os alunos tiveram a oportunidade de entrar em contato com fontes que suscitaram as discussões e reflexões.

Conheça os textos que emocionaram nossos alunos.

Guernica: o pincel como arma de guerra

“Quando estoura a Guerra Civil Espanhola, em julho de 1936, (Picasso) tornava-se um ardente defensor da causa republicana (…)

Picasso estava em Paris quando soube do bombardeio da cidade de Guernica, pelos fascistas, em 28 de abril de 1937. Ao tomar conhecimento de todos os detalhes da chacina, começa a pintar com fúria e emoção. Em seu espírito certamente já fervilhavam as ideias que mais tarde o levaram a escrever: ‘O que vocês pensam que seja um artista? Um imbecil feito só de olhos, se é pintor, ou de ouvidos, se é músico, ou de coração em forma de lira, se é poeta, ou mesmo feito só de músculos, se for um pugilista? Muito ao contrário, ele é ao mesmo tempo um ser político, sempre alerta aos acontecimentos tristes, alegres, violentos, aos quais reage de todas as maneiras. Não: a pintura não é feita para decorar apartamentos. É um instrumento de guerra para operações de defesa e ataque contra o inimigo.’

E como instrumento de guerra ele usou o pincel: em branco e preto retratou todo o horror de homens, mulheres e crianças, mutilados, de forma magistralmente trágica. E criou Guernica. Conta-se que Abetz, embaixador de Hitler em Paris, ficou tão impressionado com a obra, que teria perguntado a Picasso, aparentando desinteresse:

 – É obra sua?

 – Não. Sua. – Replicou o artista com frieza. (…)

O final da guerra encontra a vida de Picasso novamente transformada. (…) Recusa-se a voltar a Espanha enquanto perdurasse o regime franquista, e fez um contrato com o Museu de Arte Moderna de Nova York para que proteja e conserve Guernica até a queda do fascismo espanhol, quando então a obra deverá ser cedida à terra natal do pintor.”

(CARRASCO, Walcir. Picasso. São Paulo, Abril, 1977, pp. 20-22. Coleção Mestres da Pintura)

A bomba explode em Hiroshima

“Para os que lá estavam e sobreviveram, a lembrança do instante em que o homem, pela primeira vez, desencadeou contra si mesmo as forças naturais de seu universo é de um relâmpago de pura luz, ofuscante e intensa, mas de uma terrível beleza e variedade (…). Se houve algum som, ninguém o ouviu.

O relâmpago inicial gerou uma sucessão de calamidades. Primeiro veio o calor. Durou apenas um instante, mas foi de tal intensidade que derreteu os telhados, fundiu os cristais de quartzo nos blocos de granito, chamuscou os postes telefônicos numa área de três quilômetros e incinerou os seres humanos que se achavam nas proximidades, tão completamente que nada restou deles, a não ser suas silhuetas, gravadas a fogo no asfalto das ruas ou nas paredes de pedra.

Depois do calor veio o deslocamento de ar, varrendo tudo ao seu redor com a força de um furacão soprando a 800 quilômetros por hora. Num círculo gigantesco de mais de 3 quilômetros, tudo foi reduzido a escombros.

Em poucos segundos, o calor e o vendaval atearam milhares de incêndios. Em alguns pontos, o fogo parecia brotar do próprio chão, tão numerosas eram as chamas tremulantes geradas pela irradiação do calor.

Minutos depois da explosão começou a cair uma chuva estranha. Suas gotas eram grandes e negras. Esse fenômeno aterrador resultava da vaporização da umidade da bola de fogo e de sua condensação em forma de nuvem. À medida que a nuvem, formada de vapor de água e dos escombros pulverizados de Hiroshima, atingia o ar mais frio das camadas superiores, condensava-se, caindo sob a forma de chuva negra que não apagava os incêndios, mas aumentava o pânico e a confusão (…).

Depois da chuva veio o vento – o grande vento de fogo -, soprando em direção ao centro da catástrofe e aumentando de violência à medida que o ar de Hiroshima ficava cada vez mais quente. O vento soprava tão forte que arrancava árvores enormes nos parques onde se abrigavam os sobreviventes. Milhares de pessoas vagavam às cegas e sem outro objetivo a não ser fugir da cidade de qualquer maneira. Ao chegarem nos subúrbios, eram tomadas, a princípio, por negros e não japoneses, tão enegrecidas estavam. Os refugiados não conseguiram explicar como foram queimados. ‘Vimos um clarão’, contavam, ‘e ficamos assim’.”

(Trechos do livro No high ground, de Fletcher e Charles Bailey. Citado por WATSON, C. J. H. A Bomba Atômica.)

 Maria Rita Vieira e Mônica Overbeck, professoras de História e Arte